Ecce Homo
A água sabe sempre o caminho.
Carta aos homens#2
Caro Homem,
Segundo Hecatão: "deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança". Perguntarás tu como é possível conciliar coisas tão diversas. Mas é assim mesmo, caro Homem: embora pareçam dissociadas, elas estão interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes caminham lado a lado: à esperança segue-se sempre o medo. Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro. A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. Os animais fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão entecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz.
Créditos - Séneca - Cartas a Lucílio
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6 comentários
De Folhasdeluar a 15.02.2024 às 12:22
De cumplicedotempo a 15.02.2024 às 19:32
Abraço cúmplice
De Folhasdeluar a 16.02.2024 às 16:14
De imsilva a 16.02.2024 às 10:59
