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Dos bens supérfluos

Domingo, 26.05.24

"Vou gritando: evitem tudo quanto agrade aos vulgares, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parem com desconfiança e receio: também a caça ou o peixe se deixam enganar por esperanças falaciosas. Julgam que se trata de benesses da sorte? São armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança, evite quanto possa estes benefícios escorregadios nos quais, pobres de nós, até nisto nos enganamos: ao julgar possuí-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a única saída para uma vida "elevada" é a queda! E mais: nem sequer podemos parar quando a vida começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a vida não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos. Há que tratar com dureza o corpo para ele obedecer sem custo ao espírito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempéries. Fiquem sabendo que para abrigar o homem tão bom é o colmo como o ouro! Desprezem tudo quanto, com supérfluo trabalho, se acrescenta para ornamento e decoração: pensem que só o espírito merece admiração. e para um grande espírito nada há que seja grande."

Créditos - Séneca - Cartas a Lucílio

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publicado por Folhasdeluar às 07:30

Da reciprocidade

Sábado, 25.05.24

Refugia-te em ti próprio quanto puderes; dá-te com aqueles que te possam tornar melhor, convive com aqueles que tu possas tornar melhores. Há que usar de reciprocidade: enquanto se ensina aprende-se também. No entanto não percas o teu tempo com gente que não possa entender-te. E se perguntas "em proveito de quem estudei eu?". Não tenhas receio: se tiveres estudado em teu proveito, não terás perdido tempo.

E se te preocupares com o não entendimento daqueles que te lêem, deixo-te este pensamento de Demócrito:

"Para mim basta-me que sejam poucos, basta-me que haja um só leitor, basta-me que não haja nenhum".

E este de Epicuro:

"Eu não escrevi isto para muitos, mas sim para ti (para quem me entende); contemplar-nos um ao outro é espectáculo suficiente".

Créditos - inspirado em Séneca

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publicado por Folhasdeluar às 07:09

Da sabedoria

Terça-feira, 14.05.24

Todos os dias se revestem  para mim de uma enorme importância. Todos os dias procuro aprender algo, porque o prazer de aprender traz o prazer de ensinar, ou de transmitir a minha aprendizagem. E nada, por muito elevado e proveitoso que seja, alguma vez me deleitará se guardar apenas para mim o seu conhecimento. Se a sabedoria só me for concedida na condição de a guardar para mim, sem a compartilhar, então rejeitá-la-ei: nenhum bem há cuja posse não partilhada dê satisfação. Mas  a sabedoria transmitida através dos conselhos é longa, mas através dos exemplos é curta e eficaz. Por os ensinamentos devem ser servidos de forma a que quem aprende não só aproveite a sabedoria de quem ensina, mas que também aproveite quem ensina: ambos são muitos úteis um ao outro.

Créditos - inspirado em Séneca

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publicado por Folhasdeluar às 07:11

Dos defeitos de cada um

Terça-feira, 07.05.24

Verifico, que não apenas me estou corrigindo, antes me estou transfigurando. Não garanto, nem sequer espero, que nada já reste em mim sem necessitar de mudança! Como não hei-de eu ter muito que deva ser refreado, ou diminuído, ou elevado? Mas já é uma prova de que o espírito alcançou um degrau superior o facto de reconhecer os defeitos que até então permaneciam ignorados: já é motivo para felicitar certos doentes o facto de eles próprios se reconhecerem doentes.

Créditos- Séneca

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publicado por Folhasdeluar às 07:35





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