Ecce Homo
A água sabe sempre o caminho.
Olhem para estes supérfluos!
O Estado é o lugar onde todos se intoxicam, bons e maus; onde todos se perdem, bons e maus; onde o lento suicídio de todos se chama «vida».
Olhem para estes supérfluos! Estão sempre doentes, a vomitar a sua bílis e chamam a isso jornais. Devoram-se uns aos outros e nem sequer chegam a digerir-se.
Olhem para estes supérfluos! Adquirem riquezas e com elas apenas se tornam mais pobres.Querem o poder, e primeiro que tudo a alavanca do poder, muito dinheiro - esses impotentes!
Vejam-nos trepar, esses ágeis macacos. Trepam uns por cima dos outros e empurram-se mutuamente para o lodo e o abismo.
Todos querem aceder ao trono; é a sua loucura - como se a felicidade estivesse no trono. Muitas vezes é lama o que há no trono, e outras é o trono que está assente na lama.
Quereis sufocar na exalação das suas goelas e dos seus apetites ó irmãos? Parti antes as vidraças e saltai para fora.
Evitai esse odioso bafo! Evitai cair na idolatria desses supérfluos!
Ainda é possível uma vida livre para as almas grandes. Na verdade, quando se possui pouco também se é menos possuído. Louvada seja uma modesta pobreza.
Onde acaba o Estado começa o homem que não é supérfluo; onde acaba o Estado começa o arco-íris e as pontes que levam ao Super-Homem! Não o distinguis irmãos?
Assim falava Zaratustra - Nietzsche