Ecce Homo
A água sabe sempre o caminho.
Sobre o amor ao próximo
Andais muito solícitos à volta do outro e a vossa solicitude exprime-se em palavras bonitas.Mas eu digo-vos: o vosso amor ao próximo não é mais que a falta de amor por vós próprios. É para fugirdes de vós mesmos que vós vos afadigais à volta do próximo e gostaríeis de e fazer disso uma virtude;mas eu descobri o vosso desinteresse.
O Tu é mais velho que o Eu; o Tu já passa por santo, mas o Eu ainda não; é por isso que o homem se desvela à volta do próximo.
Aconselhar-vos-ei o amor ao próximo? Antes vos aconselho a fugir do próximo e a amar o distante.
Não suportais a vossa própria companhia e não vos amais o suficiente; procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e dourar-vos com o seu engano.
Quando quereis dizer bem de vós, convocais uma testemunha;e depois de a terdes persuadido a pensar bem de vós, vós próprios pensais bem de vós.
Uns procuram o próximo porque se procuram a si mesmos, outros porque desejam perder-se. A falta de amor por vós próprios torna a vossa solidão uma prisão.
Não vos indico o próximo, mas o amigo. O amigo de coração transbordante. Mas é preciso saber ser esponja quando se quer ser amado por corações transbordantes.
Meus irmãos, não vos aconselho o amor ao próximo, aconselho-vos o amor ao distante.
Créditos - Nietzsche - Assim Falava Zaratustra