Ecce Homo
A água sabe sempre o caminho.
Para pensar
Devia-se partir da vida como Ulisses partiu de Nautica - abençoando-a, e não apaixonado por ela.
Nietzsche
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Assim falava Zaratustra
Quando fez trinta anos, Zaratustra deixou a sua pátria e o lago da sua pátria e partiu para a montanha. Aí viveu durante dez anos sem se cansar, alimentando-se da sua sabedoria e da sua solidão. Mas aconteceu que o seu coração mudou, e uma certa manhã, tendo-se levantado com a aurora, apresentou-se diante do sol e falou-lhe da seguinte maneira:
"Ó grande astro! Que felicidade seria a tua se não tivesses aqueles a quem iluminas!
Há dez anos que sobes até à minha gruta; ter-te-ias cansado da tua luz e desse trajecto se eu, a minha águia e a minha serpente não estivéssemos lá.
Mas nós esperávamos-te todas as manhãs para apanhar o que de ti transborda e dar-te graças.
Repara! Estou saturado da minha sabedoria, como a abelha que acumulou demasiado mel; tenho necessidade de mãos mendicantes.
Queria dar, prodigalizar a minha sabedoria até ao dia em que os sábios se sintam felizes por serem néscios e os pobres felizes por serem ricos.
Para isso vai-me ser necessário descer às profundezas, como tu fazes todas as noites, quando mergulhas no mar para levares a tua luz ao mundo subterrâneo, astro transbordante de riqueza.
Ser-me-á necessário declinar como tu, como dizem os homens para quem quero descer.
Abençoa-me, pois, olho afável que pode ver sem inveja mesmo o excesso de felicidade.
Abençoa a taça que vai transbordar, e que o seu ouro transbordante leve por toda a parte o reflexo da tua felicidade!
Repara: esta taça deseja esvaziar-se novamente, e Zaratustra aspira voltar a ser homem."
Assim começou o declínio de Zaratustra.
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Para pensar
Ter-se-á sido um mau espectador da vida se não se vir a mão de uma form diferente - mata.
Nietzsche
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Viver com dignidade...morrer com dignidade
Nestes tempos em que a lei da legalização da eutanásia tem feito correr rios de tinta, eis o que pensava um dos grandes filósofos da escola estóica1, Séneca:
"[...] assim também nós, nesta veloz carreira do tempo que é a vida, vemos sumir-se primeiro a infância, depois a adolescência, em seguida o espaço que medeia entre os dois marcos que são a juventude e a idade madura, depois os melhores anos do início da velhice; finalmente começa a tornar-se publicamente visível a proximidade do nosso fim como homens.[...] a vida não é um bem que se deve conservar a todo o custo: o que importa não é estar vivo, mas sim viver uma vida digna!
Por isso mesmo, o sábio prolongará a sua vida enquanto dever, e não enquanto puder. Deve ter no pensamento a qualidade da vida, não a sua duração. Se se lhe deparam muitas situações graves, muitos obstáculos à sua tranquilidade, o sábio retirar-se-á! E não o fará apenas como último recurso, e assim que a fortuna começar a mostrar-se hostil para com ele, deverá meditar seriamente se não convém pôr de imediato termo à vida.
O sábio considera se como indiferente se a sua morte é natural ou voluntária, se ocorre mais cedo ou mais tarde; não tem que recear qualquer grande perda: num líquido vertido a conta-gotas, quem se interessa por uma gota a mais ou a menos? Morrer mais cedo ou mais tarde - é questão irrelevante ; relevante é, sim, saber se se morre com dignidade ou sem ela, pois morrer com dignidade significa escapar ao perigo de viver sem ela!
1 - O estoicismo é uma escola de filosofia helenística fundada por Zenão de Cítio na Grécia, em Atenas, no início do Século III a.C..