Ecce Homo
A água sabe sempre o caminho.
A matéria da vida
"Infeliz o homem, que não tem em sua casa um lugar onde possa ficar sozinho, para se poder visitar a si mesmo, para se esconder!"
Montaigne
Uma vida bem vivida deve ter uma parte de trabalho, e outra dedicada a descobrir em que consiste a vida, em contemplar a vida. Montaigne escreveu: « Cortemos os laços que nos unem uns aos outros; conquistemos para nós próprios a capacidade de viver inteiramente sozinhos e de acordo com a nossa vontade». Mas, abdicar do trabalho pode ser trazer consigo males espirituais, caso disponha de muitos livros e se dedique apenas em olhar para eles, dizia Séneca. No caso de Montaigne, quando se aposentou, segundo ele, a sua mente começou a galopar como um cavalo em fuga. Então, vendo que a sua mente estava repleta de criaturas fantásticas, decidiu assentá-los para poder analisar tão estranhos pensamentos. Daí começarem a surgir os seus famosos ensaios.
Créditos - A Vida de Montaigne de Sarah Bakewell
Este texto é uma reflexão sobre o que fazer na aposentação. Montaigne descobriu que as simples coisas do dia-a-dia eram passíveis de serem analisadas e motivo de reflexão. E também que tudo o que nos acontece pode ser motivo de escrita. Muita gente ao reformar-se sente-se inútil, quando na verdade essa deve ser a altura em que se deve iniciar a descoberta dos segredos da vida. Tudo nos pode fornecer matéria ao pensamento. A vida consiste em viajar por ela e só assim se pode chegar à conclusão de que por detrás de tudo o que nos acontece, seja bom ou mau, tudo reside na complexidade da descoberta de que a nossa própria vida pode ser transformada em húmus onde germinam ideias e outras coisas extraordinárias.
Acabo com um pensamento de Montaigne: " Se a minha mente conseguisse decidir-se convictamente, não escreveria ensaios: eu tomaria decisões; mas ela está sempre a aprender ou a experimentar".