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Assim falava Zaratustra

Quarta-feira, 07.02.24

Quando fez trinta anos, Zaratustra deixou a sua pátria e o lago da sua pátria e partiu para a montanha. Aí viveu durante dez anos sem se cansar, alimentando-se da sua sabedoria e da sua solidão. Mas aconteceu que o seu coração mudou, e uma certa manhã, tendo-se levantado com a aurora, apresentou-se diante do sol e falou-lhe da seguinte maneira:

 "Ó grande astro! Que felicidade seria a tua se não tivesses aqueles a quem iluminas!

 Há dez anos que sobes até à minha gruta; ter-te-ias cansado da tua luz e desse trajecto se eu, a minha águia e a minha serpente não estivéssemos lá.

 Mas nós esperávamos-te todas as manhãs para apanhar o que de ti transborda e dar-te graças.

 Repara! Estou saturado da minha sabedoria, como a abelha que acumulou demasiado mel; tenho necessidade de mãos mendicantes.

 Queria dar, prodigalizar a minha sabedoria até ao dia em que os sábios se sintam felizes por serem néscios e os pobres felizes por serem ricos.

 Para isso vai-me ser necessário descer às profundezas, como tu fazes todas as noites, quando mergulhas no mar para levares a tua luz ao mundo subterrâneo, astro transbordante de riqueza.

 Ser-me-á necessário declinar como tu, como dizem os homens para quem quero descer.

 Abençoa-me, pois, olho afável que pode ver sem inveja mesmo o excesso de felicidade.

 Abençoa a taça que vai transbordar, e que o seu ouro transbordante leve por toda a parte o reflexo da tua felicidade!

 Repara: esta taça deseja esvaziar-se novamente, e Zaratustra aspira voltar a ser homem."

 Assim começou o declínio de Zaratustra.

 

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publicado por Folhasdeluar às 07:32





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