Ecce Homo
"Felizes aqueles em que a idade tem o efeito do vinho, e que perdem a memória quando estão saciados de dias!" Chateaubriand
A matéria da vida
"Infeliz o homem, que não tem em sua casa um lugar onde possa ficar sozinho, para se poder visitar a si mesmo, para se esconder!"
Montaigne
Uma vida bem vivida deve ter uma parte de trabalho, e outra dedicada a descobrir em que consiste a vida, em contemplar a vida. Montaigne escreveu: « Cortemos os laços que nos unem uns aos outros; conquistemos para nós próprios a capacidade de viver inteiramente sozinhos e de acordo com a nossa vontade». Mas, abdicar do trabalho pode ser trazer consigo males espirituais, caso disponha de muitos livros e se dedique apenas em olhar para eles, dizia Séneca. No caso de Montaigne, quando se aposentou, segundo ele, a sua mente começou a galopar como um cavalo em fuga. Então, vendo que a sua mente estava repleta de criaturas fantásticas, decidiu assentá-los para poder analisar tão estranhos pensamentos. Daí começarem a surgir os seus famosos ensaios.
Créditos - A Vida de Montaigne de Sarah Bakewell
Este texto é uma reflexão sobre o que fazer na aposentação. Montaigne descobriu que as simples coisas do dia-a-dia eram passíveis de serem analisadas e motivo de reflexão. E também que tudo o que nos acontece pode ser motivo de escrita. Muita gente ao reformar-se sente-se inútil, quando na verdade essa deve ser a altura em que se deve iniciar a descoberta dos segredos da vida. Tudo nos pode fornecer matéria ao pensamento. A vida consiste em viajar por ela e só assim se pode chegar à conclusão de que por detrás de tudo o que nos acontece, seja bom ou mau, tudo reside na complexidade da descoberta de que a nossa própria vida pode ser transformada em húmus onde germinam ideias e outras coisas extraordinárias.
Acabo com um pensamento de Montaigne: " Se a minha mente conseguisse decidir-se convictamente, não escreveria ensaios: eu tomaria decisões; mas ela está sempre a aprender ou a experimentar".
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Carta aos europeus - A Terceira Guerra Mundial - final
Caros europeus,
Nesta carta vou mostrar como começou a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), para além disso proponho que façam o seguinte exercício: onde está Hitler leiam Putin e verifiquem por vós as semelhanças e como estamos a caminhar para a Terceira Guerra Mundial. Dois princípios já aconteceram: Putin anexou a Crimeia e diz que nunca atacará os países da NATO, também Hitler garantiu a Chamberlain que não atacaria mais nenhum país depois de em 1938 ter anexado a Áustria. Depois da Áustria Hitler invadiu a Polónia, quando garantiu que queria a paz. Já Putin depois da Crimeia invadiu a Ucrânia, que tinha garantido que nunca atacaria. Mas vamos aos factos:
(final)
Não há nada mais fantasmagórico do que vermos voltar a aproximar-se repentinamente de nós, sob a mesma forma ( Zweig já tinha vivivo a Primeira Guerra Mundial 1914 a 1918) e sob a mesma aparência, aquilo que na vida pensávamos estar morto e enterrado há muito.( se compararmos com o que estamos a viver: ressuscitar do nazismo e da extrema direita, os perigos por que a democracia está a passar, a xenofobia, um ditador que pensa mandar no mundo ocidental,Putin, tudo isto é perigosamente parecido com o que antecedeu a Segunda Guerra Mundial). O verão de 1939 chegou, já Hitler tinha atacado e anexado a Checoslováquia, e a imprensa alemã, empurrada artificialmente para um entusiasmo louco, exigia Danzig e o corredor polaco.[...] ninguém sabia ao certo o que estava a acontecer, mas todos se lembravam de uma coisa, de uma evidência inegável: que Chamberlain, o primeiro-ministro de Inglaterra, tomara três vezes o avião com destino à Alemanha, no intuito de salvar a apaz, e nem a mais cordial boa vontade tinha chegado para satisfazer Hitler. De repente ouviram-se vozes duras no parlamento inglês:«stop aggression!»
No dia 1 de setembro de 1939 veio a notícia: «os alemães invadiram a Polónia. É a guerra!»
O sol brilhava em toda a sua força e plenitude. Ao regressar a casa, reparei de repente na minha própria sombra que me precedia, tal como via a sombra da guerra passada( 1914/1918 por trás da guerra presente. (é a mesma sombra que vemos agora, a sombra da guerra de 1939/1945 a assolar-nos com a sombra da possível Terceira Guerra mundial). Durante todo este tempo, ela nunca mais saiu de meu lado, aquela sombra pairando dia e noite, sobre cada um dos meus pensamentos.
( Stefan Zweig escritor austríaco de origem judaica e a mulher, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o avanço das tropas de Hitler pela França em toda a Europa Ocidental, refugiaram-se nos EUA em Nova Iorque em 1940. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil, país onde se viria a radicar, mais precisamente em Petrópolis.Deprimido e sem esperança no futuro da humanidade, viria a suicidar-se com a esposa Lotte, com uma dose de barbitúricos, em 22 de fevereiro de 1942).
Créditos - Créditos - Stefan Zweig - O Mundo de Ontem
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Carta aos europeus - A Terceira Guerra Mundial - segunda parte
Caros europeus,
Nesta carta vou mostrar como começou a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), para além disso proponho que façam o seguinte exercício: onde está Hitler leiam Putin e verifiquem por vós as semelhanças e como estamos a caminhar para a Terceira Guerra Mundial. Dois princípios já aconteceram: Putin anexou a Crimeia e diz que nunca atacará os países da NATO, também Hitler garantiu a Chamberlain que não atacaria mais nenhum país depois de em 1938 ter anexado a Áustria. Depois da Áustria Hitler invadiu a Polónia, quando garantiu que queria a paz. Já Putin depois da Crimeia invadiu a Ucrânia, que Putin tinha garantido que nunca atacaria. Mas vamos aos factos:
Continuação
E de súbito, como que impelidas por um golpe de vento, as nuvens opressivas dissiparam-se, os corações ficaram aliviados, a almas recuperaram a liberdade. Veio a notícia de que Hitler e Chamberlain, Daladier e Mussolini tinham chegado a um pleno acordo, mais ainda - que Chamberlain tinha conseguido assinar com a Alemanha um pacto que garantia a solução pacífica de todos os possíveis conflitos futuros entre esses países.[...] Logo nos dias seguintes, começaram a ressomar os pormenores mais funestos: de como a capitulação frente a Hitler tinha sido total, de como se tinha entregado vergonhosamente a Checoslováquia, país que recebera a promessa solene de auxílio e de apoio, e na semana seguinte já era evidente que nem mesmo a capitulação perante Hitler fora ainda suficiente. Goebbels gritava agora abertamente que a Inglaterra tinha sido encostada à parede em Munique. Nós (austríacos) compreendíamos o que tinha sucedido e o que estava para suceder, quanto a eles( ingleses e franceses), ainda continuavam a recusar compreender. Esforçavam-se, a despeito de tudo, por perseverar na loucura de que a palavra dada era a palavra dada, um acordo era um acordo, e de que se podia negociar com Hitler desde que se falasse razoável e humanamente com ele. [...} Então começou o fluxo de refugiados, (neste caso para Inglaterra), semana após semana, mês após mês, os que chegavam eram sempre mais pobres, estavam mais perturbados que os anteriores. Mas quanto mais tempo se tinha confiado na Alemanha, quanto maior tinha sido a dificuldade sentida em a abandonar, tanto mais duro fora o castigo. ( e os que não a abandonaram acabaram quase todos nas câmaras de gás). Um povo inteiro (os judeus) era expulso do seu país e a quem era negado o direito de ser povo. Mas o mais trágico nesta tragédia judaica do século XX era os que a sofriam já não verem nela qualquer sentido, nem a expiação de qualquer culpa. Mas qual era o objectivo de tão absurda perseguição? Expulsavam-nos dos vários países e não lhes davam um país. diziam-lhes :vão-se embora, mas não lhes diziam onde haviam de viver. ( quanta semelhança com o que está a acontecer na Palestina).
(continua)
Créditos - Stefan Zweig - O Mundo de Ontem
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Carta aos europeus - A Terceira Guerra Mundial - primeira parte
Caros europeus,
Nesta carta vou mostrar como começou a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), para além disso proponho que façam o seguinte exercício: onde está Hitler leiam Putin e verifiquem por vós as semelhanças e como estamos a caminhar para a Terceira Guerra Mundial. Dois princípios já aconteceram: Putin anexou a Crimeia e diz que nunca atacará os países da NATO, também Hitler garantiu a Chamberlain que não atacaria mais nenhum país depois de em 1938 ter anexado a Áustria. Depois da Áustria Hitler invadiu a Polónia, quando garantiu que queria a paz. Já Putin depois da Crimeia invadiu a Ucrânia, que Putin tinha garantido que nunca atacaria. Mas vamos aos factos:
A pouco e pouco, a inquietação ia alastrando por toda a Europa. O horizonte político tornou-se sombrio a partir do momento em que Hitler atacou a Áustria, e os mesmos que em Inglaterra lhe tinham aberto secretamente o caminho, na esperança de assim comprarem a paz para o seu próprio país, começavam agora a ficar apreensivos. De 1938 em diante, por toda a Europa, não havia conversa que, por muito diferente que começasse a ser o assunto, não viesse a desembocar na questão de saber se a guerra poderia ainda ser evitada, ou pelo menos adiada, e de que maneira.[...] Chamberlain fora a Godesberg, para, sem reservas, conceder a Hitler tudo o que este já lhe havia exigido anteriormente em Berchtesgarden. Mas aquilo que parecera suficiente a Hitler algumas semanas antes. agora já não satisfazia a sua histérica ânsia de poder. A Inglaterra, a França, a Checoslováquia, a Europa só tinham dois caminhos: humilhar-se frente à peremptória sede de poder de Hitler ou cortar-lhe o caminho de armas na mão. A Inglaterra parecia estar disposta a tudo. Os preparativos militares já não eram mantidos em segredo, pelo contrário, eram feitos às claras e ostensivamente.
(Continua)
Créditos - Stefan Zweig - O Mundo de Ontem
P.S. - No momento em que estou a escrever este post, vejo que Putin mandou matar Alexei Navalny, mais uma prova que Putin não hesita em eliminar quem lhe faz frente. Já nem procura disfarçar o seu ódio a quem defende a democracia.
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Carta aos homens#2
Caro Homem,
Segundo Hecatão: "deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança". Perguntarás tu como é possível conciliar coisas tão diversas. Mas é assim mesmo, caro Homem: embora pareçam dissociadas, elas estão interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes caminham lado a lado: à esperança segue-se sempre o medo. Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro. A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. Os animais fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão entecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz.
Créditos - Séneca - Cartas a Lucílio
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Carta aos homens#1
Caro homem,
Se queres ter uma vida agradável deixa de preocupar-te com ela! Nenhum objecto dá bem estar ao seu possuidor senão quando este está preparado para ficar sem ele; e nenhuma coisa mais facilmente podemos perder do que aquela que é irrecuperável depois de perdida. Muitos há que andam miseravelmente à deriva entre o medo da morte e os tormentos da vida, sem querer viver nem saber morrer.
Porque te enganas a ti mesmo e não te dás conta daquilo que, desde sempre, é o teu destino? Fica certo: caminhas para a morte desde que nasceste!
Sabes quais os limites que a lei natural nos impôe? Não passar fome, nem sede, nem dor. Aquilo que a nossa natureza necessita está à nossa mão. É o supérfluo que nos faz envelhecer. É o supérfluo que nos leva a perder o caminho da paz interior. O indispensável está ao nosso alcance. Aquele que sabe viver com pouco e em paz, esse, é verdadeiramente rico.
Créditos - Séneca Cartas a Lucílio
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Uma conversa
Um procura uma parteira para os seus pensamentos, outro alguém para quem ele possa ser parteira: assim tem origem uma boa conversa.
Nietzche
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Consciência
Se se treinar a consciência ela beijar-nos-á ao morder-nos.
Nietzche
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Concubinagem
Até a concubinagem já foi corrompida...pelo casamento.
Nietzsche
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A imensa solidão de Deus
Penso no fim da Terra...
penso no dia em que o sol explodirá
e comerá o planeta
e penso na imensa solidão de Deus...